segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Petisco

Tuco era cheio de si. Do tipo que emoldura carta de ex-namorada apaixonada e guarda um espelho em cada bolso, só pra garantir. Curtia garotas- troféu e carros de duas portas com cavalos de sobra. Um bandido. Desde os oito anos de idade era o chefe do grupo, o mentor intelectual das travessuras. Era dotado de uma safadeza digna de romances baratos de banca de jornal. Não se descabelava por mulher alguma, mas amava todas como um autêntico filho da democracia torta de seu país.

Um dia, conheceu a boca e as cadeiras de Alzira. Mulher que fazia até tamanduá dar cambalhota.

Foi um desespero. A pequena fazia e acontecia com o rapaz. Não aparecia nos encontros, deixava-o plantado esperando telefonemas e recados, andava pelas ruelas com saias impossíveis e gargalhava alto balançando os cabelos que escorriam queimados de sol até a cintura.

O homem fazia de tudo pra chamar atenção, inventava admiradoras psicopatas, passava o batom da mãe no colarinho, usava roupas amassadas e cuecas pelo avesso. E Alzira... neca. Continuava exibindo suas coxas quase infinitas na sinuca de sexta-feira.

Sem saber ao que recorrer, desferiu o último golpe: pediu a moça em casamento. Ela fez que não sabia, falou da sua pouca idade, de seus desejos de estudar hotelaria em Miami e de seu amor incondicional pela boemia. No fim das contas, topou.

Tuco fez os votos e pôs os pingos nos Is: de segunda à quarta ela seria só dele; às quintas iriam juntos à gafieira- felicidade de dia útil, coisa e tal-; fins de semana... se encontrariam pontualmente às sete da manhã na padaria da esquina- café da manhã matrimonial é sagrado.

É... Com ela até meia felicidade bastava.

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